Resenha- Jóquei
“Jóquei” (2015) é o primeiro livro de Matilde Campilho. A poeta portuguesa mistura elementos de seu país, do tempo que passou no Brasil e de outros lugares que visitou construindo uma obra que está em trânsito, o que lhe rendeu o apelido de “poeta-nômade”.
Dividida em sete partes que não possuem títulos específicos, a obra mistura línguas, algo comum para um eu-lírico que está em diversos lugares ao mesmo tempo e rememorando suas lembranças sobre eles. ( “You are the sunshine/of my life/e conversar contigo de manhã/ é tão bom” p. 21) . Além disso, ela convoca o leitor a todo momento, pois o “tu” e o “você” são recorrentes.
E Matilde Campilho sempre traz o cotidiano para a cena. Aqui o amor que pede para que a figura poética voltar, em ’Alguém me avisou”, também fala da situação política do país, de como as plantações de milho estão crescendo e que “no restaurante da dona Célia/estavam servindo um tipo de pão/diferente do habitual”. Ela aborda os vendedores de sorvete, os garçons, os astronautas e até mesmo o ácido desoxirribonucleico para poetizar o mundo em que transita.
O Jóquei é aquele que cavalga os animais em disputas, mas aqui o eu-lírico está cavalgando nas cidades, que pode até ser considerada a “personagem” principal desta obra. Ela é o veículo para o amor, para fugir do que não deu certo, para encontros, para visitas, medos, angústias e alegrias. Ela que acolhe os passos do eu poético independente de onde e com que ele esteja.
Uma obra que se desdobra entre a hibridez da poesia prosaica e da prosa poética, pois Campilho constrói conversas, poemas e textos dentro das seções (“A: só liguei uma vez/ B: já passou tanto tempo” p. 81) . A autora também faz uso de referências que vão desde a música de Prince até a obra de Walter Benjamin (“I never wanna be/ your weekend lover/respondi certeiro” p. 60). Assim, Campilho nos apresenta uma obra poética primorosa ,atenta para os temas do nosso contemporâneo e nossos deslocamentos.
“Meu amor tente/ não fazer de ninguém/ uma cidade…” p. 43.