O que é escrevivência?

Caroline Barbosa
2 min readAug 20, 2021

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O termo escrevivência foi utilizado pela primeira vez em 1995, no Seminário Mulher e Literatura. Conceição Evaristo, sua criadora, diz que ele surgiu da junção entre “escrever” e “viver”, ou seja, uma forma de “escrever vivências”.

A imagem que funda o conceito é a da Mãe Preta, mulher escravizada e que tinha como papel cuidar da prole dos poderosos, embalar os sonhos deles com narrativas que, muitas vezes, não podia compartilhar com os próprios filhos. A partir dessa figura, Evaristo dá início ao seu projeto literário que busca reconstruir a História da população afro-brasileira, principalmente das mulheres negras, pois, de acordo com a autora, “a nossa escrevivência não é para adormecer os da casa-grande, e sim acordá-los de seus sonos injustos”.

Nesse contexto, a escrevivência procura ficcionalizar as vivências da população negra, compor uma narrativa que valorize suas subjetividades e apresentar as suas percepções no processo de construção literária. Diferente de muitos livros presentes no cânone nacional, as obras que utilizam a escrevivência não sexualizam a mulher negra, não apresentam o homem negro como agressivo e nem generalizam suas existências. Nessas histórias, ainda que as feridas do racismo estejam presentes, o amor pode ser vivenciado, as famílias são unidas e a memória ancestral é valorizada.

As principais características da escrevivência na literatura são o trabalho com a linguagem que se aproxima da oralidade para dialogar com o leitor; o uso de palavras cotidianas; o tempo cíclico, pois passado e presente se entrelaçam, e a narrativa que fala das experiências do indivíduo ao mesmo tempo em que se confunde com as vivências do coletivo.

Por fim, é importante destacar que a potência do termo escrevivência fez com que ele fosse ampliado para outras áreas e usado como uma práxis textual em trabalhos acadêmicos que buscam fugir das estruturas tradicionais. Um dos exemplos dessa interdisciplinaridade é o trabalho de conclusão de curso de Nathália de Meneses Rodrigues que pensa a escrevivência na geografia como uma forma de analisar os deslocamentos das mulheres negras.

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Caroline Barbosa

Escritora, professora e pesquisadora de Literatura Contemporânea (@literarioafeto)